Duas razões pelas quais o darwinismo sobrevive

 
Artigo do Evolution News and Views, com o título original ‘Two Reasons Darwinism Survives’, traduzido por mim.
 
Textos entre colchetes "[ ]" e alguns links foram introduzidos por mim.
 
 
Duas razões pelas quais o darwinismo sobrevive
Granville Sewell, 02 de fevereiro de 2014, 7:36 PM
 
Eu tenho sempre considerado a tentativa de Darwin de explicar todo o aparente e óbvio design/projeto na biologia, e mesmo a consciência humana e a inteligência, em termos da acumulação de acidentes úteis, como sendo a ideia mais estúpida já levada a sério pela ciência. Uma vez que as pesquisas científicas continuam a revelar as dimensões espantosas da complexidade da vida, especialmente ao nível microscópico, como tal teoria persiste?
 
Acredito que há duas principais razões pelas quais esta teoria extremamente implausível continua a gozar de tal popularidade tão difundida apesar da ausência de qualquer evidência direta de que a seleção natural possa contribuir para qualquer outra coisa além de muitas adaptações pequenas. Nada além do naturalismo dá especificamente suporte ao darwinismo, mas uma vez que todas as teorias naturalistas alternativas são ainda mais rebuscadas que o darwinismo, elas são consideradas suporte indireto.
 
Primeiro, em todos os outros campos da ciência o naturalismo tem sido espetacularmente bem sucedido; por que em biologia evolutiva seria tão diferente? É realmente possível que a ciência, depois de explicar com sucesso tantos outros fenômenos em termos de leis não inteligentes, se chocaria contra uma parede em biologia evolutiva, e teria de apelar para “design/projeto” aqui pela primeira vez? Conte isto como um ponto a favor do naturalismo, e contra o design, mas isto é fundamentalmente um ponto filosófico, e não científico. Mas até a mecânica quântica, a ciência nunca teve de reconhecer que algumas coisas na natureza são, em princípio, impossíveis de predizer. Até a teoria do Big Bang, a qual apontou pela primeira vez para um começo no tempo, os cientistas sempre tinham acreditado que, como o geólogo Joseph Le Conte expôs, “cada estado ou condição cresceu naturalmente a partir do [estado] imediatamente precedente”. Então, sim, é claro que é possível que a biologia evolutiva pudesse ser diferente, por que não? E meu artigo de 2013 “Entropia e Evolução”, no periódico Bio-Complexity, explica porque é tão diferente que requer um tipo diferente de explicação.
 
Segundo, há muitas coisas sobre a história da vida que dão a impressão de causas naturais. O argumento é basicamente “Isto não parece ser do jeito como se Deus tivesse criado as coisas”, um argumento usado frequentemente por Darwin em A Origem das Espécies.
 
Mas, de fato, como chamei a atenção em 2000, num artigo no Mathematical Intelligencer, “A Mathematician's View of Evolution” [Uma visão de matemático sobre a evolução], embora a história da vida possa não dar a aparência de criação por meio de uma varinha mágica, ela se parece muito com a forma como nós humanos criamos coisas, através de teste e aperfeiçoamento. O paleontólogo de Harvard George Gaylord Simpsom resume o registro fóssil como segue:
É um aspecto do registro fóssil conhecido que a maioria dos táxons aparece abruptamente. Eles não são, via de regra, conduzidos por uma sequência de mudanças quase imperceptíveis de precursores tal como Darwin acreditava que seria normal na evolução... Este fenômeno torna-se mais universal e mais intenso à medida que se sobe na hierarquia de categorias. Lacunas entre espécies conhecidas são esporádicas e frequentemente pequenas. Lacunas entre ordens, classes e filos conhecidos são sistemáticas e quase sempre grandes. Estas peculiaridades do registro propõem um dos mais importantes problemas teóricos em toda a história da vida: o súbito aparecimento de categorias mais altas é um fenômeno de evolução ou de registro apenas, devido ao viés de amostragem e a outras inadequações?
Se arqueólogos de alguma sociedade futura “desenterrassem” muitas versões de meu solucionador PDE, PDE2D, o qual tenho produzido nos últimos trinta anos, eles certamente notariam um acréscimo regular em complexidade ao longo do tempo, e eles veriam muitas similaridades óbvias entre cada nova versão e a versão anterior. No começo era apenas capaz de resolver uma única equação linear 2D de estado estacionário em uma região poligonal. Desde então, o PDE2D tem desenvolvido muitas habilidades: agora resolve problemas não lineares, problemas dependentes de tempo e de autovalores, sistemas de equações simultâneas, agora lida com regiões 2D curvas em geral, e se adaptou a problemas 1D e 3D. Um arqueólogo tentando explicar a evolução deste programa de computador em termos de muitos melhoramentos minúsculos pode ser confundido a achar que cada um destes maiores avanços (novas classes e filos?) apareceram repentinamente em novas versões; por exemplo, a habilidade de resolver problemas 3D apareceu primeiro na versão 4.0. Melhoramentos não tão grandes (novas famílias e ordens?) apareceram repentinamente em novas subversões, como, por exemplo, a habilidade de resolver problemas 3D com condições de contorno periódicas que apareceu primeiro na versão 5.6. De fato, o registro do desenvolvimento do PDE2D seria similar ao registro fóssil, com grandes lacunas onde os principais novos aspectos apareceram, e lacunas bem menores onde os aspectos secundários apareceram. Isto se dá em razão da multidão de programas intermediários entre versões ou subversões que o arqueólogo poderia esperar encontrar nunca terem existido, porque – por exemplo – nenhuma das mudanças que eu fiz para a edição 4.0 fazia qualquer sentido, ou porque qualquer vantagem que fosse na resolução de problemas 3D (ou algo mais) não foi provida ao PDE2D até centenas de linhas [de código] terem sido adicionadas. Assim como os principais avanços no desenvolvimento de um programa de computador não podem ser feitos através do aperfeiçoamento de uma cadeia de cinco ou seis caracteres, nenhum avanço evolutivo principal é redutível a uma cadeia de minúsculos aperfeiçoamentos, cada um pequeno o suficiente para ser resolvido por uma mutação simples aleatória.
 
Nós vemos este mesmo padrão no desenvolvimento de outras tecnologias. Se algum futuro paleontólogo fosse desenterrar dois tipos de Volkswagen, ele poderia achar plausível que um evoluiu gradualmente a partir do outro. Ele poderia achar a lacuna de transições graduais entre famílias de automóveis mais problemática, como, por exemplo, na transição de sistemas de freio de mecânico para hidráulico, ou transmissões de manual para automática, ou de motores a vapor para motores de combustão interna; embora se ele pensasse sobre como se pareceriam as transições graduais, ele entenderia porque elas não existiam. Ele ficaria até mais confuso diante das enormes diferenças entre a bicicleta e o filo dos veículos a motor, ou entre um barco e o filo dos aviões. Mas os céus nos ajudam quando ele descobre motocicletas e o hovercraft. A descoberta destes “elos perdidos” seria aclamada em todos os jornais como prova final de que todas as formas de transporte surgem gradualmente de um ancestral comum, sem projeto/design.
 
As similaridades entre a história da vida e a história da tecnologia vão ainda mais fundo. Embora as similaridades entre espécies no mesmo ramo da “árvore” evolutiva possam sugerir descendência comum, similaridades (mesmo similaridades genéticas) frequentemente também originam-se independentemente em ramos distantes, onde elas não podem ser explicadas por descendência comum. Por exemplo, de acordo com uma artigo da Nature Encyclopedia of Life Sciences, “a habilidade de ser carnívoro em plantas deve ter se originado várias vezes independentemente uma da outra... os ascídios podem ter se originado várias vezes separadamente, armadilhas adesivas pelo menos quatro vezes, armadilhas de mordida duas vezes e armadilhas de sucção possivelmente também duas vezes”. Este fenômeno, conhecido como “convergência”, sugere mais projeto comum que descendência comum: a probabilidade de projetos similares se originarem independentemente através de processos aleatórios é muito pequena, mas um projetista poderia, é claro, ter uma boa razão e aplicá-lo diversas vezes em diferentes lugares, em espécies não relacionadas. Convergência é um fenômeno frequente visto no desenvolvimento de tecnologia humana: por exemplo, automóveis Ford e jatos Boeing podem simultaneamente evoluir novos sistemas de GPS semelhantes.
 
Ken Miller desafiou críticos do darwinismo a explicar porque, no registro fóssil, encontramos “um organismo após outro em lugares e em sequências... que claramente dão a aparência de evolução”. Eu respondo, neste artigo no ENV, com outra questão: “Por que a história da tecnologia dá a aparência de evolução, quando, na verdade, é resultado de projeto/design inteligente?”
 
Então se a história da vida se parece com a forma como os humanos, os únicos seres inteligentes conhecidos no universo, projetam coisas – através de cuidadoso planejamento, teste e melhorias – por que é que há um argumento contra o projeto/design? Assim como muitos outros argumentos usados por Darwin e darwinistas, este argumento é fundamentalmente um argumento religioso, envolvendo pressupostos sobre como Deus deveria ter criado as coisas: ele deve ter usado uma varinha mágica.
 
O darwinismo deve sua popularidade inteiramente a estes dois argumentos filosóficos e religiosos; como uma teoria científica não tem nada mais que a torne atraente.
 
 
Etiquetas:
Evolucionismo - evolução tecnológica - visões/cosmovisões - religião científica
 
 
 
 

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